Estranho Na Minha Terra
Em 2007, tive ocasião de ir a São Miguel, Açores, na época natalícia, depois de cinquenta anos de ausência na Califórnia. Apesar de ter regressado várias vezes durante os meus cinquenta anos de Calafona, aconteu-me algo que não tinha experimentado durante as outras viagens.
Nos meus anos jovem em Ponta Delgada, todos os anos vivia-se na expectativa da chegada do dia 8 de Dezembro, dia das montras. Era sempre uma alegria ir ver os brinquedos que estavam em exposição, nas varias lojas, Loja dos Alemães, Manteiga, e Cogumbreiro e muitas mais que já la vão ou cujo o nome já esqueceu.
Parte da activade nas ruas, nessa noite, era o encontro dos meus pais com amigos e familiares, e a inevitavel comparação das montras, que era o tema de conversa. Eu estava mais interessado nos brinquedos do que propriamente houvir as conversas. Queria era correr de montra em montra, sempre com da minha mãe a dizer, espera, espera, há tempo para ver tudo.
Luzes só se viam nas montras. Nas ruas a iluminação natural de lâmpadas fracas com a ajuda duma lua por vezes cheia, fazia com que o conteúdo das montras sobre saltasse.
Nesse tempo o Velho Natal, era ainda uma figura de pouca importância, porque quem trazia os brinquedos era o Menino Jesus.
Avançando para 2007, depois de ter terminado os afazeres que me tinham levado a S. Miguel e de ter almoçado com familiares, decidimos que nos iam-mos encontrar a noite na Matriz, para passar o serão a ver montras.
Cheguei um pouco cedo à Matriz e resolvi ir tomar um café ao Central, que no meu tempo era um dos cafés elite, em Ponta Delgada.
A azafama da noite já tinha principiado, com muita gente a passear pelas ruas iluminadas. O comercio tradicional estava vestido no seu melhor, os milhares de luzes coloridas dave impressão de que se estava na Terra d'Amerca por altura das Crismas. Desde a Machado dos Santos à de S. João, da António José d'Almeida, à Matriz, à Praça do Município, Praça Gonçalo Velho, Avenida Marginal, Rua dos Mercadores e da Misericordia, era impressionante o vai e vem de gente.
Mais um café e uma queijada de nata, continuei a esperar sem que aparecessem os familiares. Sentado na explanada, via passar tanta cara e não conhecia ninguém. Dizia eu cá comigo, aquele é fulano, ou aquela é fulana. Por vezes até me pus de pé para ir saudar. Mas não. Ainda atravessei a Matriz para entrar na Igreja de S. Sebastião e ver o presépio.
Notava-se uma afluência muito diferente da dos meus tempos de menino. As montras recheadas das ultimas modas, electrodomésticos, computadores, Ipods e os sempre desejados brinquedos. As figuras do Velho Natal eram a maior evidencia de que se estava na quadra natalícia. Em algumas montras ainda se podiam apreciar alguns dos presépios tradicionais.
Por fim, resolvi ir dar uma volta, pois, escutava ao longe o som de tambores, que lideravam o entertenimento camarário da época. Mais uma volta pela Praça do Município, regresso para subir a Matriz e António José d'Almeida e por aí adiante pelo comércio tradicional.
Apreciamos a iluminação, a Tuna da Universidade, escolhemos o que queríamos para o Natal e por fim, sem nunca ter encontrado os familiares e sem conhecer mais minguem nas ruas, pensei cá comigo, apesar do espírito natalício, e de estar na cidade que me viu nascer, sou um estranho na minha terra.
E se me dão licença, vou tomar uma mijinha do Menino, enquanto armo o meu presépio. Feliz Natal
J.M. Lomelino Alves
San Diego, Califórnia
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