Em 1957, imigrei para os Estados Unidos no navio Monte Brasil, da então companhia Carregadores Açoreanos, onde o meu avô José Inácio Alves foi escrivão por largos anos.
Os tempos trouxeram o desaparecimento desta conceituada empresa, da qual muito se podia aprender nestes dias em que se fala tanto da falta de transportes marítimos de, para e no arquipélago.
Batendo todas as adversidades das crises internacionais, muito teriam que ensinar, esses homens de São Miguel, que com o seu denodo souberam vingar e servir não só os Açores, como o país!
Carregadores Açoreanos
A Sociedade Corretora Limitada, constituída a 22 de Agosto de 1913, promoveu a fundação da sociedade anónima de responsabilidade limitada de comércio marítimo, Companhia de Navegação, designada “Carregadores Açoreanos”, em 15 de Março de 1920, com vista a assegurar o transporte do ananás micaelense para os mercados do Norte da Europa, nomeadamente para os portos de Londres, Hamburgo, Antuérpia e Le Havre. Reza o artigo 3º do pacto social que «o seu objecto é o exercício do comércio marítimo por embarcações a vapor ou de outro sistema e, para esse fim poderá praticar todos os actos ou operações comerciais e financeiras que forem necessárias».
Com um capital social de 2 150 contos insulares, dividido em acções de 100$00 cada, contam-se como sócios fundadores, os subscritores constantes na figura.
Em 1923, o seu capital social foi aumentado para 5 000 000$00.
Cristiano Frazão Pacheco, director delegado da Sociedade Corretora Limitada, impulsionador da empresa, assumiu a primeira administração de Carregadores Açoreanos, narrando, com algumas mágoas, os primeiros tempos da empresa, no seu livro Os Tratos do Linho. Francisco Luís Tavares e, mais tarde, José Honorato Gago da Câmara de Medeiros, visconde do Botelho, sucederam nos destinos da empresa até à sua integração na Empresa Insulana de Navegação.
Após goradas as expectativas em torno da aquisição, em 1920 e em 1921, de dois barcos votados à pesca de alto mar, a empresa, nos finais de 1921, adquiriu o cargueiro Villa Franca, por £ 10 000 esterlinas, para serviço de passageiros e carga, nas rotas de Londres e de Hamburgo. No ano seguinte, adquiriu o Gonçalo Velho (por £ 6000 esterlinas) e, em 1923, o Santa Maria (ex-Koutoubia, por £ 6 000 esterlinas). O naufrágio do Santa Maria, nesse mesmo ano, bem como a venda do dispendioso Gonçalo Velho obrigou os Carregadores Açoreanos a reestruturarem a sua frota e a adquirirem os navios Lagoa (ex-Viana) e o Vila Franca (II) (ex-Espozende), em hasta pública, em Lisboa, por £ 37 380 esterlinas e, em 1925, o Fayal, por £ 4 255. No entanto, era imperioso constituir uma verdadeira frota que assegurasse a regularidade da carreira para Londres e para os portos do Norte da Europa e, por isso, em 1928, foram adquiridos, em Londres, os navios Angra e Gonçalo Velho (II) e, em 1929, o navio Pêro de Alenquer (ex-Coimbra).
Durante os anos trinta, assistiu-se à expansão da empresa, que adquiriu, em 1931, o vapor misto San Miguel, encomendado na Inglaterra, por £ 52 230 esterlinas, e o vapor Corte Real (ex-Peursen), por 950 000 florins e que inaugurou as viagens para os Estados Unidos da América. Com o início da Segunda Guerra, a costa leste americana tornou-se o destino privilegiado da companhia, após o progressivo encerramento dos portos da Europa do Norte. A empresa, em 1943, para responder ao aumento da procura de fretes para aquele destino, adquiriu o navio Sete Cidades (ex-Luise Bornhofen), por 12 500 000$00.
A dimensão dos lucros obtidos nesta rota explica a construção do imponente edifício do Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, como forma de aplicação social dos lucros, visto a legislação em vigor impedir a sua aplicação em sectores produtivos diferentes dos da navegação.
Aproveitando o despacho n.º 100 de 10 de Agosto de 1945, que visava a modernização da marinha mercante portuguesa, os Carregadores Açoreanos mandaram construir, na Holanda, em 1948, os navios Ribeira Grande e Monte Brasil; na Inglaterra, em 1949, o Horta e o Vila do Porto; na Suécia, em 1958, o Açores e, em Portugal, em 1960, o Ponta Garça, tendo adquirido, entretanto, em Espanha, em 1951, os navios Lagoa (II) e Sete Cidades (II).
O fim da guerra, o redimensionamento das rotas no Atlântico e o aumento da concorrência internacional afectaram, irremediavelmente, os Carregadores Açoreanos.
Para lutar contra as crescentes dificuldades económicas, em 1970, a empresa Carregadores Açoreanos associou-se à Empresa Insulana de Navegação com vista à racionalização das suas frotas, quer na rota entre os portos do continente e das ilhas, quer na rota do Atlântico Norte com os portos norte americanos. Em 1971, o activo da empresa foi incorporado na Empresa de Tráfego e Estiva, S A, assistindo-se, formalmente, à fusão de Carregadores Açoreanos com a Empresa Insulana de Navegação, a 9 de Dezembro de 1972, sob a nova designação de Empresa Insulana de Navegação, SARL.
O sonho de Cristiano Frazão Pacheco, impulsionador dos Carregadores Açorianos, e de uma elite económica micaelense chegava ao fim. Os Carregadores Açoreanos tinham vingado nos conturbados anos de Entre-Guerras e tinham prosperado durante a Segunda Guerra, mas a paz e a expansão económica durante “os gloriosos 30”, na Europa e na América do Norte, tinham deixado de justificar a sua existência.
O arquivo de Carregadores Açoreanos encontra-se depositado na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada. Fátima Sequeira Dias (2001)
Bibl. Moraes, A. A. (1998-99), Carregadores Açoreanos e a sua frota. Sep. de Atlântida. Angra do Heroísmo, XLIV: 13-67. Pacheco, C. F. (1970), Os Tratos do Linho. Ponta Delgada, Artes Gráficas.
Sócios fundadores da companhia de navegação Carregadores Açoreanos
subscritor
número de acções
Sociedade Corretora Limitada
7368 (34% do capital)
Banco Micaelense
3005 (14%)
Bensaúde & Companhia
2592 (12%)
Casa Bancária Raposo do Amaral Severim & Comandita
2000
Caixa de Crédito Micaelense Limitada
1081
João de Melo Abreu
1034
Companhia Comercial Açoreana limitada
870
Gil Gago da Câmara
732
Cogumbreiro & Companhia
407
José Augusto Correia e Silva
380
Santos & Botelho
339
José Tavares Carreiro
291
Francisco Carvalhal
300
António Alfredo Teixeira Sucessores
264
Luís Maria de Aguiar
143
Diniz Augusto Teixeira
129
George William Hayes
100
João Tavares Neto
100
José Bensaúde
50
Francisco Luís Tavares
30
Laurénio Tavares
30
Albano Pereira da Ponte
25
Cristiano Frazão Pacheco
25
Francisco Bettencourt de Medeiros e Câmara
25
Gustavo Adolfo de Medeiros
25
Manuel Tavares de Sousa
25
Martim Machado de Faria e Maia
25
Albano Azevedo Oliveira
25
José Bruno Tavares Carreiro
20
Luís Benevides
20
Luiz Soares de Souza Sucessores
20
Luís Bettencourt de Medeiros e Câmara
10
Pedro Correia Machado
10
IN- Enciclopédia Açoriana
Centro de Conhecimento dos Acores
http://pg.azores.gov.pt//drac//cca/enciclopedia/ver.aspx?id=1393
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