FADO
Já talhado
No livro da natureza.
Um destino reservado,
De riqueza
Ou de pobreza,
Consoante o chão lavrado.
E nada pode mudar
A fatal condenação.
No solo que lhe calhar,
A humana vegetação
Tem de viver, vegetar,
A cantar
Ou a chorar
Às grades desta prisão.
Anjos - Almirante Reis dia de nevoeiro
Auguarela de Meste Real Bordalo
LISBOA
Poema de: Miguel Torga
A luz vinha devagar
Através do firmamento...
Vinha e ficava no ar,
Parada por um momento,
A ver a terra passar
No seu térreo movimento.
O rio, ao lado, corria
A querer fugir do abraço:
Numa vela que se abria,
E onde um sorriso batia,
O mar já era um regaço.
Ardia em brasa o Castelo,
Tinha febre o casario;
Cada vez mais nosso e belo,
O profeta do Restelo
Punha as sombras num navio...
Os heróis verdes da História
Tinham tons de humanidade;
No bronze da sua glória
Avivava-se a memória
Do preço da eternidade.
E a carne das cantarias,
Branca já de seu condão,
Desmaiava em anemias
De marítimas orgias
De um fado de perdição.
Em: lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/
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