JOÃO CARLOS ABREU
Querem tirar-nos a Esperança
Como é possível que um país altamente endividado, fruto da incompetência de todos os governos, continue a ajudar as ex-colónias e se esqueça de verificar a miséria que rasa em Portugal. Há, quer queiram, quer não, portugueses com fome; há uma considerável pobreza envergonhada, gente que necessita de medicamentos e não os pode comprar!
Não imaginei nunca que, aos 76 anos de idade, me quisessem tirar a esperança. Desde pequeno, os meus pais ensinaram-me que “a esperança era a última coisa a morrer”, mas no meu país isso já não acontece. Todos os dias, os portugueses são “bombardeados” com palavras e afirmações que não só nos roubam o sossego, mas também a própria esperança.
No meu dia-a-dia, porque ando na rua e ouço as pessoas, sinto-as cada vez mais assustadas. Os mais velhos, incrédulos, com lágrimas nos olhos, contam os “tostões” que lhes restam. Os mais novos, depressivos, com “canudos” nas mãos, batem de porta em porta à procura de um trabalho. Uns e outros, sem mais nem ontem – como se costuma dizer – têm pela frente, de repente, um “gandulo”, dois ou três, com armas brancas, exigindo-lhes os seus haveres.
Os analistas nas televisões vão somando palavras sobre palavras que soam a vazio. Devem de ser poucos aqueles com vontade de ouvi-los. Somos, efectivamente, um país de palavras que, à força de repeti-las, adulteram-se e ferem-nos. Porque as palavras quando ditas num determinado contexto têm a força das armas.
O Senhor Primeiro Ministro, em vez de usá-las de forma a que em cada português se acendesse uma luz, fá-lo precisamente ao contrário: um pessimismo assustador que cada vez mais se vai alastrando. As pessoas estão à deriva e assustadas. Já não acreditam em dias melhores. Mas a culpa de tudo isto vem, precisamente, de cima, daqueles que tinham a obrigação de dizer a verdade, mas sem nos aterrorizar. Somos seres humanos, mais frágeis do que pensais, porque estamos, há muito, debilitados…
Agora, parece que a palavra de ordem é emigrar. Para onde?! Como?! É assim tão fácil sair de um país para outro e logo encontrar um trabalho?! Onde estão assinados os acordos com os países, Brasil e Angola? Existem, por ventura? Abalançar-se a emigrar não é o mesmo que ir ali ao lado. É muito mais complicado.
Descobri, há muito, que vivo num país de raivas, ódios e vinganças, o que me entristece; um país com uma classe política em cujos alicerces falta-lhe humanismo e consciência: do querer servir sem servir-se; do querer ser útil à sociedade sem vaidade; servir com humildade, pondo o saber e a inteligência ao serviço dos outros; construir uma democracia saudável em que todos tenham um lugar digno da condição humana, com liberdade e justiça social.
Mas aonde já se viu que um alto governante de um país descriminalize uma Região, referindo-se que nessa o impacto da dívida será maior?!
Como é possível que um país altamente endividado, fruto da incompetência de todos os governos, continue a ajudar as ex-colónias e se esqueça de verificar a miséria que rasa em Portugal. Há, quer queiram, quer não, portugueses com fome; há uma considerável pobreza envergonhada, gente que necessita de medicamentos e não os pode comprar!
Como é possível que neste país, para dar uma cadeira de rodas a um deficiente, se tenha que juntar X de cápsulas de garrafas?!
E as dívidas das Empresas do Estado, que atingem verbas mirabolantes, nunca são chamadas e nem repetidamente exaltadas, como aquela da Madeira?!
Este panorama, tal como se apresenta, não conhecemos até quando nos vão submeter a todos estes sacrifícios e se, por ventura, eles servirão, sequer, para se atingir os fins desejados. Cada vez que um governante em Lisboa faz declarações, Portugal mais se assusta: ou é para mencionar a palavra CRISE, é para nos mandar EMIGRAR!
Por mim, vou continuar a lutar; vou continuar a acreditar que pertenço a um povo capaz e criativo; vou continuar a ouvir o menos possível os políticos e os analistas que nos roubam a esperança.
Em 2001, quando estive em Buenos Aires, a Argentina estava mergulhada num túnel que parecia sem saída. Encontrei, num estabelecimento, um jovem que me disse: “vamos virar isto”. Em 2011, a Argentina é um dos países economicamente mais florescentes. Eu bem sei que de 2001 a 2005 tinha um Ministro das Finanças – Roberto Lavagna – extraordinariamente competente e inteligente.
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