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Friday, June 1, 2012

Viola da Terra - Autoria de Wellington Nascimento


Com a autorização do autor reproduzo este artigo, que foi publicado na última edição de "O Mundo Açoriano" e que achei de muito interesse para os que possam não conhecer os detalhes da viola da terra, como eu.
Obrigado ao autor pela autorização.


                 Foto: http://antebelluminstruments.blogspot.com/2010/11/c1900-viola-da-terra.html

Segundo o cronista Gaspar Frutuoso a viola, que ainda não era da terra, terá chegado aos Açores na segunda metade do século quinze, trazida pelos primeiros povoadores. Estes cordofones possuíam características semelhantes às violas atuais e tiveram grande importância na música popular da península ibérica durante toda a Idade Média e Moderna, constando em fontes iconográficas dos séculos XV ao XVIII, e em relatos poéticos e literários os mais diversos. Não há registos do tipo, ou dos tipos de violas que aqui chegaram, mas é possível um exercício de estudo do DNA da Viola da Terra que tem como parentes próximas a Viola Toeira e a Viola Amarantina.

Nos Açores a viola passou e vem passando por um processo de construção identitária que culminou com sua denominação como Viola da Terra. Essa solidificação identitária, como eu costumo chamar, tem vários aspetos importantes dos quais vou enumerar dois:
1. A utilização do corpo do instrumento como repositório de símbolos e a tradução destes símbolos de forma a afirmar a vinculação da Viola da Terra a uma identidade açoriana.
2. A utilização sistemática da imagem da Viola da Terra e sua vinculação a personalidades de relevo na sociedade de modo a valorizar e sedimentar sua importância no contexto identitária açoriano.

Esta construção identitária teve seu apogeu nas últimas décadas do século XVIII com o aparecimento na Europa do movimento artístico, político e filosófico denominado “Romantismo”, que prezava pela conservação das tradições populares e antigos costumes.

Deste modo a Viola da Terra assumiu ao longo dos séculos grande importância social e cultural no arquipélago açoriano, tornando-se “o instrumento musical típico dos Açores”.

Genericamente existem dois modelos de Viola da Terra: a Viola Terceirense, utilizada na ilha Terceira e a Viola Micaelense, utilizada em todas as restantes ilhas.

Como vimos, ao chegar aos Açores, a viola consolida suas características comuns, mantendo essas características fundamentais primitivas em todas as Ilhas, embora adquirindo afinações e particularidades estéticas diferenciadas. Porém na segunda metade do séc. XIX, surge na ilha Terceira um instrumento semelhante à Viola da Terra, exibindo no entanto algumas diferenças fundamentais:
- 6 ordens de cordas: 3 duplas e 3 triplas;
- Boca em forma de círculo;
- Escala saliente.
Diferente da Viola Micaelense que tem:
- 5 ordens de cordas: 3 duplas e 2 triplas;
- Boca em forma de coração;
- Escala rasa.

Atualmente a Viola da Terra trocou o conforto da cama onde repousava pelo mundo virtual. Encontramos cada vez mais referências sobre a Viola da Terra na internet. O mundo mudou e a Viola da Terra vem acompanhando estas mudanças e se adaptando aos novos tempos.

No ensino temos o Conservatório Regional de Ponta Delgada que mantém desde 1982 um curso livre de Viola da Terra. Os formadores desde curso foram Miguel Pimentel (1982/1986), Alfredo Gago da Câmara (1986/1988), Mário Jorge Ventura (1988/2000) e em 2005 com Ricardo Melo (2005/2007) surge o curso de Viola da Terra integrado no programa curricular do conservatório que desde 2007 é lecionado por Rafael Carvalho.

Nas publicações podemos destacar A Viola de Dois Corações, de Manuel Ferreira, A viola de arame nos Açores, de José Alfredo Ferreira Almeida, ambas na 2ª edição, e o Manual de apoio ao estudo da Viola da Terra de Ricardo Melo.

Nos eventos, entre tantos, destacamos os projetos Transmutações para Viola da Terra (2010), I Encontro de Violas Açorianas (2011), "Violas do Atlântico" – Açores e Madeira (2011) e "Conversas à Viola" (2011) entre outros.

Ao contrário do que muitos pensam a Viola da Terra está viva e mantém uma ponte sólida entre o passado e o presente, com novos construtores e novas abordagens organológicas, um repertório variado e mais adaptado às salas de concerto e uma presença constante no mundo virtual. Sua presença nos museus, em propagandas turísticas, em atividades lúdicas pedagógicas, na casa do homem simples e nas salas de concerto das elites, nos dá a confirmação de sua importância como património e símbolo da cultura Açoriana.

E viva a Viola da Terra!
Com autorização do autor - WELLINGTON NASCIMENTO
Músico e investigador no Centro de História de Além-Mar (UNL/UAÇ) e Centro de Estudos Gaspar Frutuoso (UAÇ)
Natural de Goiana PE, Brasil, residente em S. Miguel, Açores
17-05-2012

Em: http://www.mundoacoriano.com/index.php?mode=noticias&action=show&id=308 24 de Maio 2012


O vídeo tem uma duração de 33 minutes, mas vale a pena para apreciar o que é viola da terra e o seu som.

2 comments:

Anonymous said...

Hi cousin it Alexis Leite from Rhode island I've been trying to find your email address please contact me at amleite@ccri.edu hope to hear from you !

Anonymous said...

Ei, eu tentei e-mail pertencentes a este post, mas não são capazes de chegar até você. Por favor email-me quando chegar um momento. Graças.